Olá, imparável. Salve Maria. Tudo bem?
Veja se isso já aconteceu com você: apareceu um serviço para fazer. Nada muito complexo. Você pode delegar, mas, antes, precisaria ensinar à outra pessoa o que ela deve saber. Você pensa: “Vai demorar demais para ensinar.” Isso levaria tempo e, então, para não prolongar as coisas, você decide: “Deixa, melhor eu resolver logo”. E assim você faz.
Isso não se limita somente ao trabalho. Pode haver algo que seu filho possa fazer, mas, para ganhar tempo, você acha melhor fazer você mesmo.
Você não faz porque queria fazer, faz porque parece mais rápido e menos trabalhoso. No final das contas, foi a Lei do Menor Esforço que decidiu por você.
A Lei do Menor Esforço.
Segundo Daniel Kahneman, em “Rápido e Devagar”, a Lei do Menor Esforço “determina que, se há vários modos de atingir um mesmo objetivo, as pessoas tendem ao curso de ação menos exigente”.
Cada atividade tem um nível natural de esforço necessário para sua realização. Entretanto, às vezes, fatores externos aumentam a energia exigida — além da tarefa em si, também é necessário autocontrole, foco ou disciplina.
Por exemplo: quando uma tarefa é percebida como “algo tedioso”, ela demanda mais esforço mental, porque a pessoa precisa de mais força de vontade para se manter concentrada. Nesse caso, ela não escolhe o caminho que é mais rápido — mas o que exige menos esforço interior.
Daniel sugere um teste simples com uma pergunta. Não pense. Apenas siga a sua intuição:
Um par de raquetes de frescobol e uma bola custam R$98. O par de raquetes custa R$90 a mais do que a bola. Quanto custa a bola?
Se você respondeu R$8, errou — embora pareça certo à primeira vista.
Veja: se a bola custasse R$8, e o par de raquetes fosse R$90 a mais do que a bola, o par, sozinho, custaria R$98. R$8 + R$98 = R$106. Passou do total.
A resposta correta é R$4. O par de raquetes custaria então R$94 — exatamente R$90 a mais que a bola. Total: R$98.
Segundo Daniel, até quem acerta muitas vezes pensa primeiro em R$8, mas, ao refletir um pouco mais, corrige o impulso inicial e encontra a resposta certa.
Isso acontece porque a Lei do Menor Esforço também atua sobre o nosso pensamento. E é aqui que entra o que Daniel definiu como Sistema Rápido e Sistema Devagar.
Sistema Rápido e Sistema Devagar.
Daniel definiu que temos 2 sistemas de pensamento:
Sistema Rápido: funciona de forma automática e instintiva. Quando não tem todas as informações, o cérebro aposta em uma resposta que pode ser tendenciosa, ligada a sentimentos ou experiências anteriores. Busca formar rapidamente um contexto e escolhe uma solução.
Sistema Devagar: atua de forma lenta, controlada e racional, obedecendo às regras formais. Esse sistema delimita o problema, compara, levanta informações e faz uma reflexão antes de tomar uma decisão. Busca realizar uma escolha lógica e prudente.
As informações processadas pelo Sistema Devagar ajudam a “ensinar" ou "atualizar” o Sistema Rápido. Assim, na próxima vez que o Sistema Rápido for acionado diante de uma situação parecida, ele poderá responder de forma mais precisa, em vez de “chutar” uma resposta. Por isso, experiências passadas ajudam a alimentar o Sistema Rápido. Quanto mais situações semelhantes uma pessoa enfrenta, mais precisa será sua resposta rápida.
Talvez você já tenha ouvido alguém dizer que “precisa limpar o cache” quando não consegue ver uma informação nova em um site. Isso acontece porque, ao visitar uma página, o navegador guarda uma versão localmente (em cache), para carregar mais rápido da próxima vez. Mas, se essa versão estiver desatualizada, você precisa recarregar a página ou forçar uma atualização.
Essa lógica também é usada em sistemas complexos de tecnologia, que combinam bancos de dados “normais” (como PostgreSQL) com bancos de acesso super-rápido (como Redis). Esses sistemas otimizam o desempenho e reduzem o custo de processamento. A ideia é responder rapidamente e com exatidão, mas com menor esforço (custo).
A Lei do Menor Esforço está mais enraizada do que podemos imaginar, desde pessoas até sistemas. O diferencial do empreendedor está em buscar conhecimento — para agir com rapidez, mas sem negligência.
Conclusão
Existe uma inclinação em buscarmos o caminho de menor esforço. Quando faltam informações, o caminho é guiado pelo Sistema Rápido — que, muitas vezes, oferece uma solução baseada em uma aposta, não em reflexão.
O conhecimento é o que permite que o empreendedor católico aja com responsabilidade. Executar uma tarefa ou tomar uma decisão sem buscar o que se deve saber é, na prática, negligência.
“Todo o acto directamente querido é imputável ao seu autor. Assim, depois do pecado no paraíso, o Senhor pergunta a Adão: «Que fizeste'?» (Gn 3, 13). O mesmo faz a Caim (Gn 4, 10). Assim também o profeta Natan ao rei David, após o adultério com a mulher de Urias e o assassinato deste (2 Sm 12, 7-15). Uma acção pode ser indirectamente voluntária, quando resulta duma negligência relativa ao que se deveria ter conhecido ou feito, por exemplo, um acidente de trânsito, provocado por ignorância do código da estrada.” (Catecismo da Igreja Católica CIC 1736)
Segundo São Tomás de Aquino, quem não busca o conhecimento necessário incorre em imprudência — e isso é pecado. (Sinopse da Suma Teológica - Vol. II)
O empreendedor católico precisa buscar sabedoria. E essa busca é mais do que útil — ela pode nos aproximar do Reino de Deus.
“Seu início é o sincero desejo de instrução; cuidar da instrução é amor; amor é observância de suas leis; observância das leis é garantia de incorruptibilidade, e a incorruptibilidade faz estar junto de Deus. Assim, o desejo da Sabedoria conduz ao reino.” (Sb 6, 17-20)
Que a paz de Jesus lhe ajude a reconhecer os sinais e o amor de Maria conduza suas escolhas. 💙
Nos vemos no próximo sábado!
Forte abraço!